Escotismo Capixaba
Como tudo começou
A mais antiga referência conhecida sobre Escotismo no espírito Santo foi uma correspondência trocada entre Baden-Powell e o educador e pastor norte-americano Loren Marion Reno, fundador do Colégio Americano Batista de Vitória em 14 de junho de 1915. Assim, adotou-se essa data como o marco inicial do Escotismo Capixaba.
Ao contrário do que antes se pensava, o Escotismo estabeleceu-se no Espírito Santo de forma organizada e, até onde sabemos, bem documentada pelos jornais da época, alguns sendo veículos de divulgação oficial, uma vez que o Escotismo era tido por muitos como um movimento de Estado. Porém, desde cedo se tratou do Movimento como educacional, e, assim, ficou sob a orientação de professores e coordenados pela Secretaria de Instrução do Espírito Santo, hoje, Secretaria de Estado de Educação. Surgiram Grupos Escoteiros em vários lugares no Espírito Santo, tanto na capital como no interior, alguns registrados oficialmente e outros não, certamente imaginando que um registro da prefeitura local fosse suficiente.
Surgido em escolas, sob a orientação de padres e professores e tido por muitos como um movimento de Estado, o Escotismo Capixaba foi fundado em vários lugares, não havendo um registro formal sobre este feito, a não ser pelas raras fotografias da época, pelos recortes de jornais e pelas lembranças transmitidas pela oralidade, as quais levam-nos a crer que o primeiro núcleo foi formado na cidade de Guaçuí numa reunião marcada pelo, então, Comissário Nacional de Escoteiros de Terra, Gabriel Skinner e por autoridades educacionais do estado.Skinner tornou, mais tarde, o fundador da Associação Espírito Santense de Escoteiros e o primeiro responsável pelo Escotismo no estado, tendo sido uma das oito pessoas que, em outubro de 1936, primeiro receberam, junto com o Lorde Robert Baden-Powell, fundador do Escotismo, a medalha Tapir de Prata(1), criada com a fundação da União dos Escoteiros do Brasil, em 1924, e definida nos regulamentos como “a recompensa honorífica de mais alto mérito escoteiro”.
Gabriel Skinner, permaneceu como responsável pelo Escotismo no Espírito Santo até novembro de 1930, quando foi substituído pelo professor capixaba Eduardo de Andrade e Silva.
Anos 30
Em 18 de novembro de 1933, foi criada a Federação Espírito Santense de Bandeirantes Escolares, pelo interventor federal João Funaro Bley. Naquela época, surgiram os “Chefes Históricos” como os Professores Eduardo, Placidino Passos, Aflordízio de Carvalho e outros. A Esposa do Professor Eduardo, a Professora Agripina de Andrade e Silva, foi Chefe de Bandeirantes e autora do Hino do Escoteiro Capixaba. Naquela época, o trabalho educacional do Escotismo era obrigatório para os professores da rede pública, tendo sido criado um campo-escola, onde os adultos voluntários passavam um mês acampados, recebendo visitas dos familiares nos finais de semana.
Em 1935, um feito de dois Escoteiros do Mar capixabas assombrou a todos. Eugênio Trombini Pellerano e Maurício JúdiceAchiamé embarcaram na pequena jangada Scarpa e navegaram de Vitória ao Rio de Janeiro, numa aventura que” arrepiou o cabelo de muitos adultos”. Durante o percurso, corrigiram, inclusive, a posição do Baixio de Siri na carta náutica editada pela Marinha do Brasil. Eugênio Pellerano veio a ocupar, posteriormente, importantes cargos na Diretoria Regional da UEB-ES. Foi um renomado professor, inventor, pesquisador e físico, com trabalhos no campo da Astrofísica.
Anos 40
Na Segunda Grande Guerra, os Escoteiros Capixabas atuaram na proteção do litoral. Por causa das imigrações alemã e italiana no estado, havia inimigos infiltrados na população e esses poderiam ter contatos com seus países pelo mar, principalmente à noite. Os Escoteiros capixabas descobriram pontos luminosos de avisos nas praias e os mostraram às autoridades militares. Um jornal de circulação nacional publicou o feito e, no ufanismo da época, alcunhou os Escoteiros capixabas de “Guardiães do Brasil”.
Em 8 de janeiro de 1941, morreu Baden-Powell, e, do Espírito Santo, partiu uma jornada de luto a pé que terminaria no Rio de Janeiro. No caminho, juntaram-se os Escoteiros da Bahia e de Minas
Gerais, além de outros procedentes dos estados de São Paulo e Paraná.
Anos 50
Na década de 1950, Ernesto Guimarães (1897 – 1960), poeta, teatrólogo, escritor, desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça assumiu a presidência da Região Escoteira do Espírito Santo, sendo o autor da tese “A Justiça e o Escotismo” apresentado no Congresso Luso-Brasileiro em São José do Calçado. Nessa época, a Federação Espírito-Santense de Escoteiros tinha uma sede própria, localizada no térreo da Rua Nestor Gomes, 87, em frente ao Palácio Anchieta.
Em 1952 seis grupos escoteiros funcionavam oficialmente no Espírito Santo, distribuídos em três cidades e totalizando um contingente de 106 pessoas.
Anos 60
Bem no princípio, da década, o Escotismo Capixaba se expandiu significativamente, principalmente graças aos trabalhos de professores como o Irmão Leonardo Machado que fundou os dois Grupos Escoteiros Maristas no Espírito Santo, nos respectivos colégios instalados nos municípios de Vila Velha e Colatina.
Um destaque a ser dado no estado na década de 1960 foi o Bandeirantismo. Organizado e bem difundido, principalmente na Grande Vitória, a existência de tanto um como outro movimento badeniano provocava um incentivo mútuo entre jovens de ambos os sexos. Era uma época que somente homens, com exceção das Chefes de Alcateia, poderiam ser escoteiros e somente mulheres poderiam ser bandeirantes. Os encontros juntos, com festivais de dança e outras festas de confraternização, ou mesmo os acampamentos em conjunto, mesmo com as normas rigorosas da época que tornavam as manifestações afetivas entre jovens de sexos diferentes praticamente uma aventura dignas de constarem em romances, eram muito celebrados. Não raramente um escoteiro namorava uma bandeirante e isso era muito bem comentado na época!
O governo militar estimulava o Escotismo, e alguns Grupos cresceram bastante. Nessa época surgiram novos nomes de destaque no Escotismo Capixaba, dentre eles Agenor de Souza Lé, um eminente professor e Chefe Escoteiro de São Mateus. Seu tempo no Movimento, até onde se saiba, foi curto, mas ele influenciou o Movimento o suficiente para formar-se, após seu falecimento, um
Grupo Escoteiro com seu nome, que é, hoje, o mais antigo do Estado.
A foto à direita é de 21/08/1966 e de autoria desconhecida. Trata-se da promessa do irmão Gava (mais alto). O mais baixo é o
Anos 70
Escoteiros e bandeirantes do Espírito Santo. Contribuição do Chefe Luiz Severino Neto.
A década de 1970 experimentou um crescimento numérico de Escoteiros no Espírito Santo.
João Cabas Filho talvez tenha sido o mais polêmico dirigente regional da história do Escotismo capixaba. Sua importância histórica é tamanha que esses anos setenta são conhecidos, no contexto do Escotismo Capixaba, como “A era Cabas”. Com sua personalidade forte, ajudada pelo corpanzil e vozeirão, em todas as vezes que se apresentava, fosse em eventos escoteiros ou não, iniciava com um discurso arrastado, mas motivador, lembrando suas próprias qualidades e experiências com as mesmas palavras: “Esse que vos fala, com quarenta anos de escotismo…” .
Cabas transformou sua casa num escritório organizado e, quando Comissário Regional, iniciou um período de expansão numérica e de importância política e social do Movimento no Espírito Santo, em que o Escotismo fazia parte de todos os grandes eventos no Estado.
O maior triunfo de Cabas foi trazer ao Espírito Santo a Reunião do Conselho Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, na sua XXVIII edição, em Guarapari, em abril de 1977. Foi uma reunião importante no contexto nacional e, para o Escotismo Capixaba, foi um acontecimento único e inesquecível! Nunca se viu tantos grandes e importantes escotistas e dirigentes juntos antes, e nunca se viu tantas autoridades importantes valorizando o Movimento
(1)Por que a mais alta condecoração da União dos Escoteiros do Brasil é um tapir? Logo após a consolidação do Movimento Escoteiro, seguiu-se pelo mundo a tradição em que cada país escolheu um animal para sua mais alta comenda. É assim no A criação do “Tapir de Prata”, para nós brasileiros, foi feita em 1924, ano em que as lembranças da I Guerra Mundial ainda eram muito recentes e a paz mundial era extremamente valorizada. O tapir foi escolhido justamente por ser um animal pacífico demais, herbívoro, que não faz mal a ninguém. Vivendo em harmonia em seu ambiente. Fonte: Manual de Reconhecimento e uso de Condecorações e Recompensas, 3a edição, Outubro de 2013, União dos Escoteiros do Brasil – Escritório Nacional |
texto: Ricardo Coelho dos Santos, edição: Jodelson Sabino